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felizes os normais














FELIZES OS NORMAIS (Roberto Fernández Retamar, Cuba, 1930, 2019)

Felizes os normais, esses seres estranhos. Os que não tiveram uma mãe louca, um pai bêbado, um filho delinqüente, Uma casa em nenhuma parte, uma doença desconhecida, Os que não foram calcinados por um amor devorante, Os que viveram os dezessete rostos do sorriso e um pouco mais. Os cheios de sapatos, os arcanjos com chapéus, Os satisfeitos, os gordos, os lindos, Os rintintim e seus correligionários, os que "como não, por aqui", Os que ganham, os que são queridos ao máximo, Os flautistas acompanhados por ratos, Os vendedores e seus compradores, Os cavalheiros levemente sobre-humanos Os homens vestidos de trovões e as mulheres de relâmpagos, Os delicados, os sensatos, os finos, Os amáveis, os doces, os comestíveis e os bebestíveis, Felizes as aves, o esterco, as pedras.

Mas que dêem passagem aos que fazem os mundos e os sonhos, As ilusões, as sinfonias, as palavras que nos desbaratinam E nos constroem, os mais loucos que suas mães, os mais bêbados Que seus pais e mais delinqüentes que seus filhos E mais devorados por amores calcinantes. Que lhes deixem seu lugar no inferno, e basta

(tradução de Jeff Vasques)

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Uma pequena homenagem ao grande cubano Roberto Fernández Retamar, que nos deixou ontem. Poeta, ensaísta, presidente da Casa de las Américas desde a década de 80, um dos maiores articuladores da poesia e arte latinoamericana de todos os tempos. Sua obra e luta, imensas seguirão vivas.


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