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Itati Schvartzman

NEM UMA A MENOS (Itatí Schvartzman, Argentina) A amiga que sonha com um marido que a sustente o menino que escreve o reggaetton da moda a mãe que educa machinhos e princesas o chefe que rosna: é que ela está "naqueles dias" a companheira que te diz: assim você não arruma namorado a idiota que esclarece: sou feminina, não feminista a mamãe que só a veste de rosa, porque é menina o papai que compra bonecas e cozinhas de brinquedo e máquinas de lavar roupa para a menina e bolas e aviões e jogos de química para o menino o namorado que vasculha seu telefone e seu facebook a mulher que diz de outra mulher que parece uma puta com essa roupa a mamãe que sonha ter um príncipe azul de genro o papai que paga por sexo com meninas da idade da sua filha o namorado que não transa com a namorada por respeito e sai com prostitutas depois de deixá-la em casa os companheiros de trabalho que em vez de escutar o que você tem a dizer na reunião pedem que você sirva o café ou prepare o mate a marca de detergente que só fala com você, mulher o médico que te faz cesárea sem necessidade ou o que te faz a episiotomia de rotina a enfermeira que te grita: agora aguenta, na hora de fazer não reclamou ou a que te amarra na maca pra parir o marido que te proíbe de trabalhar ou o que te esconde os documentos e o dinheiro ou o que controla suas entradas e saídas a caricatura política diária a piada de merda, as propagandas Faustão, a novela, os concursos de beleza o que te obriga a fazer algo na cama que você não quer, o que se preocupa só com seu próprio prazer o que te diz: agora você não pode me deixar assim o que te humilha, o que te adjetiva, o que te menospreza o que te enche de porrada o que te isola, te controla, te vigia, te segue o que me disse a primeira cantada grosseira aos doze anos, o que me tocou contra minha vontade no bar da moda, em todos os bares da moda o companheiro que te manda varrer o chão da sede do partido o companheiro que não questiona seus privilégios o que recebe um contra-cheque mais gordo só por ter pênis e se cala e guarda o cheque no bolso o idiota que pergunta e o dia do homem, hein? a mamãe que obriga a menina a tirar os pratos sujos de seus irmãos homens a idiota que rapidamente volta a esclarecer mas olha eu sou feminina, não feminista a que tira sarro de que eu não me pinto a que tira sarro de que você não se depila a que tira sarro de que você não usa salto a que ri de eu comprar livros e não bolsas o companheiro que olha para as minhas tetas Todos unidos em frente à televisão se perguntando como é possível outra mulher ter sido assassinada (Tradução: Coletivo Trunca)




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