“O que você encontrará aqui é precioso, raro, porque nos leva pra dentro do coração da classe, na fábrica, onde a poesia quase nunca esteve, e nos permite ver de perto Carlinhos, Marisas, Robsons, Patrícias, e nos transver neles, na fábrica que funciona em nós; é precioso, mas comum, ‘comum como queríamos que fosse’, nos fala do dia a dia, do convívio na vila, das dores compartidas, dos humildes cafés, desses domingos repletos de tesão, e dessas belezas que só trabalhadores juntos podem produzir, como greves; e é necessário, pois é revolta contra esse mesmo cotidiano, desejo de não voltar mais – ao menos não dessa forma coisificada – às máquinas, à fábrica. Esse é o canto operário de Golondrina, poesia que mais-vale, produzida nas anti-horas de trabalho, roubando horas ao patrão. Canto entoado em um período de poucos ouvidos, de descenso das lutas operárias, mas, por isso mesmo, tão vital: entre-canto que “conecta gerações / sabe de onde viemos / e lança seus versos até os que virão.”
– trecho do prefácio de Jeff Vasques
“Assumo a dureza e a tortura desses versos e as credito e ofereço à sociedade do capital, que não nos ensina nem permite muitas sutilezas, e vai podando sistematicamente nossa capacidade de abstração, criatividade, sensibilidade, crítica… produção de beleza. Com a que me sobrou, foram feitos esses versos, papelitos nos bolsos escondidos das calças e dos jalecos, para não perder.
Que esse livro seja capaz (se não hoje, que não demore) de chegar em quem o produziu e para quem foi produzido, que possa aliviar seus músculos cansados, abrir seus olhos, estufar seu peito, cerrar os dentes e punhos, quem sabe abrir um riso… Que ajude a provocar e organizar a raiva e a dor para enfim acabar com suas causas.
A tarefa é grande, os poemas são pequenos… Mas nós podemos ir além.”
– trecho da apresentação de Golondrina Ferreira
Arte de Maicon Antônio Trunca Edições, 2019 Poesia contemporânea de luta
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